Estávamos em Novembro. O G20 iria realizar-se em Lisboa,
pelo que a segurança nas ruas era visivelmente reforçada. Preparava-me para
sair de casa para participar num congresso. Pensava: ” o que vou calçar? Se
levo os botins, são mais confortáveis mas usados, e levar as de cano alto na
mala torna-se uma tarefa árdua. Se por outro lado levar estas calçadas, iria
ser um suplício aguentá-las o dia todo devido à altura dos saltos. Mesmo assim,
resolvi levá-las, salvaguardando-me com os botins dentro da mala. Como sempre,
eu e a Isabel estávamos atrasadas, e apanhamos o autocarro errado. Saímos na
ponta oposta à que queríamos. Pensei: “Ok. Vou ter que andar bastante. Espero
não mandar um trambolhão”. Saltitávamos alegremente de braço dado, entre as
poças de água e as minhas botas “supé-chiques” estavam a portar-se bem. Porém,
ao fim de algum tempo, disse à Isabel: “achas que é muito mau mudar de botas no
meio da rua? Perguntou: ”aqui”? - “Sim.
Porque não?”. Ao que respondeu: “acho que não faz mal”. E eu perguntei-lhe:
“Está muita gente a passar? Achas que vão ficar a olhar?” Ela disse: “Caga
nisso. Despacha-te”. Pus-me de cócoras. Fiz algum malabarismo, e lá consegui
trocar de botas sem incidentes. Fizemos o resto do caminho em passo acelerado.
Agora, bem mais confortável, mas com a mala a abarrotar. Antes de entrar no
Hotel onde se iria realizar o congresso, voltei a trocar de botas. Lá estava
eu, linda e maravilhosa, em cima dos saltos. Só mais TARDE a Isabel revelou que
estive de cócoras a trocar de botas, em frente da embaixada dos E.U.A. com
camaras de vigilância apontadas, para não falar da quantidade de seguranças
armados a olhar para mim. Que vergonha! O que será que pensaram? Que iria sacar
de uma bomba da bota, ou que era simplesmente doida varrida?
Sunday, 25 November 2012
Tuesday, 20 November 2012
Azul cocó
Sabem da fúria que hoje em dia existe na oferta de brindes associados
a revistas. Sabem, qualquer mulher fica histérica só de pensar que vai receber
um brinde grátis, seja ele qual for. Pois, eu também tenho esse gene! Andava
louca a chatear o Pedro para comprar uma revista que oferecia uma “fantástica” mala.
Estávamos numa bomba de gasolina, na fila para pagar, quando me lembrei e
exclamei: “Pedro. Vê lá aí se têm a revista”. –“Sim”. – “E a mala, também?” – “Confere”.
Diz ele com ar pouco entusiasmado. Perguntei: “Que ar é esse? A mala e gira,
não é?” Ao que respondeu: “mais ao menos. O problema é a cor”. – “Qual é a cor?”
– “Azul”. – “Mas é um azul como?” –“ É um azul estranho!” – “Estranho como? É
azul quê?” Tanto insisti, que ele acabou por responder: “é azul cocó”. – “Cocó?
Ah, que horror!” Estávamos tão entusiasmados neste didático diálogo, que não
nos apercebemos das pessoas na fila e do funcionário da estação de serviço, que
me pergunta: “Então, vai levar a revista e a mala?” Ao que respondi
delicadamente: “Não. É cocó!”. Como já tínhamos pago, saímos da loja, e foi
então que nos apercebemos das gargalhadas atrás de nós. – Olha Pedro. Acho que
demos nas vistas. Mas porquêeeeeeee?
À conversa no trânsito
Em plena Fontes Pereira de Melo,
posicionada em frente da passadeira, olhava para um lado e para o outro, a ver
se alguém me via, como quem não quer a coisa. Passados alguns minutos e muita
rotação da cabeça, fixei-me na presença de alguém no meu lado esquerdo, pus o meu
maior sorriso, olhei directamente nos olhos, e disse: “Olá, boa tarde.
Posso-lhe pedir ajuda para atravessar?”. Não obtive resposta. Pensei: “grande
estafermo! Como é possível? Não hás-de ser mais teimoso que eu”. Aguardei mais alguns segundos, e voltei à
carga. Desta vez com um sorriso ainda maior, e uma voz mais assertiva (podia
ser surdo): “OLÁ! Gostaria de atravessar. Posso-lhe pedir ajuda?”. Apenas se ouvia o ruido ensurdecedor do
trânsito. Nada que se parecesse com uma resposta. “Pindérico horroroso. Pois
toma!”. E comecei a fazer-lhe caretas. Mas aquela pessoa ao meu lado não se
mexia. Nem para a frente, nem para trás. Comecei a achar estranho tanta
imobilidade. Enchi-me de coragem, e estendi delicadamente a mão em direcção à
pessoa. “Q’orror! Tinha estado falar com um semáforo à frente de toda a gente,
e ninguém foi capaz de me avisar!”.
Apresentação
O chorilho de disparates que se segue baseia-se parcialmente em factos
verídicos, roçando ocasionalmente a verosimilhança. Não nos
responsabilizamos por qualquer eventual identificação com os eventos
relatados.
Para já, coloque-se na situação de alguém que não vê o mundo que a rodeia.
E aprecie a viagem.
Para já, coloque-se na situação de alguém que não vê o mundo que a rodeia.
E aprecie a viagem.
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