Em plena Fontes Pereira de Melo,
posicionada em frente da passadeira, olhava para um lado e para o outro, a ver
se alguém me via, como quem não quer a coisa. Passados alguns minutos e muita
rotação da cabeça, fixei-me na presença de alguém no meu lado esquerdo, pus o meu
maior sorriso, olhei directamente nos olhos, e disse: “Olá, boa tarde.
Posso-lhe pedir ajuda para atravessar?”. Não obtive resposta. Pensei: “grande
estafermo! Como é possível? Não hás-de ser mais teimoso que eu”. Aguardei mais alguns segundos, e voltei à
carga. Desta vez com um sorriso ainda maior, e uma voz mais assertiva (podia
ser surdo): “OLÁ! Gostaria de atravessar. Posso-lhe pedir ajuda?”. Apenas se ouvia o ruido ensurdecedor do
trânsito. Nada que se parecesse com uma resposta. “Pindérico horroroso. Pois
toma!”. E comecei a fazer-lhe caretas. Mas aquela pessoa ao meu lado não se
mexia. Nem para a frente, nem para trás. Comecei a achar estranho tanta
imobilidade. Enchi-me de coragem, e estendi delicadamente a mão em direcção à
pessoa. “Q’orror! Tinha estado falar com um semáforo à frente de toda a gente,
e ninguém foi capaz de me avisar!”.
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