Conhecíamo-nos há pouco tempo e fomos passar um
fim-de-semana a Sesimbra. Andava com a mania de “picar” o Pedro para me deixar
conduzir o carro. Era apenas brincadeira. Vontade de não estar calada – “Pidro.
Quando é que me deixas conduzir o BMW coupé?”.
Tanto o moí, que no domingo sugeriu irmos até ao cabo Espichel. Uma vez lá,
vira-se para mim e pergunta: “então. É hoje?”. Sem perceber de que se tratava,
perguntei, com o ar mais ingénuo do mundo: “é hoje o quê?”. Ao que ele
respondeu: “que vais conduzir o carro”. Fiquei estarrecida, colada ao banco, dado
que das duas únicas vezes que conduzira, ainda a ver, foi um desastre, enfiando
o carro numa vinha. Escusado será dizer que nunca tirei a carta. Só mais tarde
lhe contei esta história.
De qualquer forma, era uma oportunidade única de sentir a
adrenalina, e a vontade sobrepôs-se à razão. Confesso que, no início, fiquei um
pouco apreensiva, mas não dei parte de fraca: “mulher que é mulher, nunca diz
não a um bom desafio”. Trocámos de lugares. Ele pergunta-me se eu sabia o lugar
das coisas, ao que respondi que já não me lembrava. Ele, muito atencioso,
explicou-me tudo. Mandou-me ligar o carro. Uma vez ligado, engrenei a primeira,
a segunda, e a terceira, mas esqueci-me completamente de “pormenores “como o
volante e travão. Interessava era acelerar e meter mudanças. Era giro! A certa
altura, saí do transe ao ouvi-lo gritar: “Olha o volante!”. Nessa altura
senti-me intimidada com o dito cujo, e virei-o apenas com a ponta dos dedos.
Uma vez invertida a marcha, regressei ao acelerador, e ia toda entretida,
quando ouço de novo gritar: “Trava! Trava!”. Olhei para ele tranquilamente e
perguntei: “qual dos pedais é o travão?”. Ele em pânico, respondeu: “o do
meio”. Travei, ficando a pouco mais de ½ metro da igreja.
Curiosamente, nunca mais me deixou conduzir. Também não sei
porquê.
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